quarta-feira, 6 de abril de 2011

Mais uma história triste


Chorava na noite clara. As estrelas não brilhavam, a lua nem aparecia. Estava ela sentada num banquinho, sozinha no meio da rua, imersa em pensamentos tristes. Olhava para os passantes e nada via, exceto um rosto – o rosto de seu coração despedaçado. O rosto das mil razões de mágoa que a contagiavam. Enfim, viu uma livraria aberta entre tantos outros estabelecimentos que já haviam se fechado para os sentimentos dela. Viu ali uma chance de reconhecer outras tristezas, imaginárias ou reais, para se afastar da própria melancolia. Entrou de olhos cheios d’água, coberta de frio e disfarçada de feliz. Não convenceu ninguém. Todos (os poucos que lá estavam) olhavam com pena, e logo ela percebeu que seu plano não daria certo: teria ela de enfrentar a própria dor? Suas feridas se tornavam mais perceptíveis, pois escorriam com mais rapidez pelo rosto avermelhado da querida. Mais ela tentava esconder, menos ela conseguia persuadir os olhos alheios. Por fim, pegou um caderninho da loja, pagou e sentou-se perto da saída. Ela entrara para ler outros romances tristes, mas acabaria escrevendo sua própria história? Mais uma lamentação. Seria mais uma história de amor com final triste. Mais um escritor deprimido. Quem se importaria com mais um desses, entre tantos? Mas ela começou... ou não, pois ainda escrevia repetidas mil vezes aquele nome que há tanto a assombrava. Rabiscou a página toda com aquelas letrinhas, até que parou. Olhou para os lados e percebeu como aquilo não fazia sentido – pegou a folhinha, rasgou e jogou no lixo da saída da livraria de subúrbio. Saiu pela pequena porta de madeira, acompanhada do caderno de lindos sonhos, que se tornaria seu grande confidente – pelo menos no dia que ela o abrisse com coragem o suficiente para contar sua história. E quando a força chegar, podes ter certeza que te conto, entre tantas outras, a pequena história de amor dessa menina chorosa.

2 comentários:

  1. Quando a força chegar, talvez a menina chorosa perceba que a beleza de uma flor é muito mais intensa do que o tom cinza da decepção; que um céu azul e a brisa no rosto podem levar para bem longe pensamentos de uma desventura; e que a alvorada poderá anteceder à descoberta de um novo amor.
    Parabéns pelo texto! Uma ótima semana pra ti!

    ResponderExcluir

"Tão estranho carregar uma vida inteira no corpo, e ninguém suspeitar dos traumas, das quedas, dos medos, dos choros." Caio F

Deixe teu comentário mais sincero. Críticas, elogios e depoimentos pessoais são muito bem vindos! Obrigada por ler meus escritos :)