domingo, 31 de julho de 2011

Tapar Buracos

"Seria apenas mais uma história, se não tivesse tocado a alma." Caio F. Abreu

Eles se conheciam desde a maternidade, compartilharam a infância, o amadurecimento. Estavam assim até hoje. Assim, ele cochichou no ouvido dela:

- Você não acha que nós ficaríamos bem juntos?

Num pestanejar de olhos, ela pensou: sim, com certeza, ficaríamos lindos juntos. Tu, com esse teu ar de amor, com essa tua beleza única, com esse olhar encantado e com todas as outras coisinhas que eu sempre percebo quando cruzo por ti. Achas que nunca pensei nisso? Pensei sempre, todas as vezezinhas (e foram tantas!) que nos vimos ao longo dos anos. Refleti sobre como somos parecidos, como combinaríamos se, quem sabe, algum dia, amanhã ou nunca, tu fizesses tal proposta. Não brigaríamos por besteiras, não acabaríamos uma conversa sem risadas, não teríamos que bancar de galanteadores nesse novo amor, e aposto que não nos separaríamos nunca. Seríamos perfeitos.

Só que hoje, lembra do que me constaste? Hoje tu estavas frágil, tu tinhas perdido um grande amor. Hoje, tu não estavas com um sorriso no rosto na primeira vez em que te vi. Estavas magoado, e te consolei. Seria esse novo amor nosso mais um consolo? Oh! Que trágico. Como resolver um grande dilema de vida? Como te amo, como te quero, e como hoje tu me queres, percebo, mas será que ainda estarás inclinado por mim no amanhecer? Estou te servindo para esquecimento de um passado ou para a construção de um futuro? Por que me questiona disso justo hoje? Mas que timing, o teu! Hoje não dá. Hoje não posso. Não podemos. Não se quisermos uma casinha com um jardim cheio de girassóis daqui a alguns anos. Hoje tu não me queres, queres minha bondade, meu amor e minha fraqueza, sem retribuição. Queres apenas que eu te sirva como uns copos de bebida, afogando as lágrimas do momento. Se fosses me querer ontem, um outro hoje, talvez amanhã ou no mês que vem, agarrar-te-ia até meu último suspiro. Hoje, engulo meu amor e te respondo:

- Talvez, mas já estou de saída. Nos vemos depois!

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Gavetas

weheartit



Olho pro lado e vejo: meu armário. Que importância teria? Um armário desarrumado em uma casa qualquer, talvez tão diferente ou tão parecida ou irrelevantemente igual a qualquer uma outra. E daí? Começo a procurar por sentimentos rasgados e juras esquecidas: nossa, como é difícil. Onde estão, onde estão? Blusas novas encobrem tecidos que carregam lembranças; as saias, longe de serem leves como o vento, escondem as memórias carregadas; meias se enrolam com o passado, entrelaçam tantas outras coisinhas misturadas. Enfim, ali fora: nada encontro. Aqui dentro, parece que também está assim: um guarda-roupa em completa desordem. São tantos laços e fitas que unem os mais diversos gostos e amantes... onde estão, aqui, os compartimentos para organizar meus sentimentos? Onde estão as pilhas que servem apenas para guardar as roupas velhas, as caixinhas que nunca são abertas? Parece-me que tudo está sempre tão exposto... onde estão as nossas gavetas?

*pequena reflexão