terça-feira, 31 de agosto de 2010

Vocês sabiam...

que hoje é o dia do blog?
A justificativa que eu li por aí foi porque a data 31/08 se assemelha a palavra Blog (que imaginação!)
Então vou aproveitar esse dia para agradecer a todos meus seguidores assíduos (umas duas ou três pessoas) por todo tempo "perdido" nesta minha página de pensamentos. Beijos!

sábado, 21 de agosto de 2010

Além do arco-íris...


2003, 20 de setembro. 18h56
Soluçando, ela pensava alto. Via-se sozinha num local tão estranho, tão diferente, tão não-ela. Revirava fotos e lembranças do passado. Não entendia como havia chegado ali. Sentia-se inquieta, pois percebia que não estava onde deveria estar. Isso acontece às vezes em festas, quando deveríamos estar em casa estudando, quando estamos no meio da rua e nos sentimos totalmente deslocados. Oh, estava pensando alto novamente. Shhh, cala teus pensamentos. Mas como? Estar em lugar e não pertencer a ele? Que sensação seria essa?
Ela tentava raciocinar sobre sua situação: percebia que seu CEP estava incorreto, suas cartas chegavam pro endereço errado e sua localização geográfica não fazia sentido. O local do dia-a-dia era simplesmente um obstáculo para todos os planos futuros. O desejo de voltar à sua querência¹ devorava qualquer sentido dessa vivência.
Dentre suas fotos, viu-se ofegante diante daquela tão antiga. O pago, a família, tudo: onde estava? Por que ela se via tão distante daquela realidade encantada? Mais soluços. Nenhuma resposta. Por horas e horas ela se viu enfrentando aquela fotografia, tentando trazê-la de volta. Caiu no sono, e sonhou com aquele lugar tão distante... parecia que toda galáxia estava entre ela e seu lugar amado. A tristeza de ver aquela distância, quase milimetrada pela precisão de seu sonho, fê-la dar um salto de imediato.
Ah, a realidade. Guardou todas suas fotos numa caixinha, pois sabia que havia chegado a hora: ligou pra companhia aérea, reservou a primeira passagem que houvesse disponível, secou as lágrimas e partiu sem olhar para trás. Havia passado muito tempo naquele lugar indesejado. Não tinha mais motivos para ficar. Em segundos sua expressão ganhou um sorriso. Embarcou e não conseguiu fechar os olhos por nenhum segundo durante toda a viagem. Pareceu ter demorado meses, mas ela enfim chegou. As memórias voltavam, e ela nem precisava das fotografias para isso. Ficou cheia de sorrisos. Olhou para o céu; um arco-íris. E então pensou alto, pela última vez: Vejo que estou no final deste arco-íris, pois eis, aqui, meu lindo pote de ouro.
Com uma tão conhecida moral, mas nunca desgastada: Happiness is where you make it / Pois uma pessoa pode viajar o mundo e nunca encontrar a verdadeira felicidade que reside onde nosso coração está.

querência¹: O Tradicionalismo gaúcho traz nas asas a leveza do carinho que a palavra “querência” irradia. No seu âmago o forte sentimento pátrio, que não se troca nem por nada. Querência é o local onde se nasce, brinca, cresce... onde se vive! A Querência é local contagiante, pelo som da natureza, perfume das matas, colinas, várzeas, águas, passáros - é a magia do envolvimento sentimental, irradiado pelas coisas do rincão. Querência é pátria, chão, lar, torrão e pago. Querência é o doce lugar onde os homens ou os animais param os rodeios de suas benquerenças. Querência é a extensão do lar. Melhor dizendo: é próprio lar! Querência é o conjunto das coisas que nos fazem felizes. É o vazante dos sofrimentos de peão andarilho. É o colo da natureza, acolhendo o filho pródigo, que não resistiu a saudade de seu recanto. A querência, doce em seu aconchego, sempre é o melhor lugar do mundo.
Fonte: (Livro de Salvador F. Lamberty - ABC do Tradicionalismo Gaúcho)

domingo, 1 de agosto de 2010

Brilho

Uma mesinha de canto em uma sala escura. Ela entra, e percebe um brilho no cantinho da sala. Faz-se a luz, ela percebe um embrulho. Quem enviaria um presente naquele dia como qualquer outro, em que ela apenas fazia seu caminho de volta para seu refúgio? Quem se lembraria daquela menina que era como qualquer outra, cabelos e olhos escuros como a solidão?
Ela caminha pela sala, tentando desvendar tal mistério. Pensa em todas as pessoas com quem falou na semana, em todas as pessoas de quem se esquivou. Não demorou muito, já que ela passava tanto tempo recolhida em seus pensamentos, afastada de multidões. Nenhuma daquelas pessoas, pensou, teria lhe enviado tal surpresa. Os amigos já não mais eram próximos, o amor havia virado a esquina e procurado outros enamorados. Quem seria o misterioso ser amoroso a ponto de lembrar-se dela, a menina isolada de tudo a seu redor?
Chegou perto do embrulho, envolvida de emoções. Não sabia como reagir, o que haveria dentro daquele pacote tão brilhante e lindo. Tocou-o suavemente, para sentir a textura daquele brilho. Aumenta ainda mais seu encantamento, e ela percebe um envelope ao lado daquela beleza toda. Um envelope perfumado, azul, cheio de corações. Sua curiosidade chega ao ápice, e pode-se sentir a preciosidade que aquilo tudo havia trazido ao seu dia. Tamanha é sua ansiedade, que ela chega a rasgar parte do envelope, na ânsia por descobrir o que aquilo tudo significava. Dentro dele, havia um papel rabiscado de amor, dizendo “Tenho pensado muito em ti”, com aquela assinatura que ela há tanto não via.
Aquilo trouxe lágrimas a sua face. Ele. Ela sabia como havia sofrido desde a última vez que se viram. Imersa em pensamentos ela ficou, por alguns minutos. Lembrou-se, então, do embrulho, ainda intacto. Apressou-se em abri-lo, bisbilhotando logo o que chegava ao alcance de seus olhos. Mais brilho. Ela percebe, então, a fragilidade do presente. Um porta-retrato coberto de pedrinhas, que a lembravam daquele dia que passaram os dois embaixo do sol. O formato redondo a fez recordar aquela promessa de eternidade. A foto lá presente revelava como aqueles tempos eram belos, os dois rindo juntos sem temer a realidade.
Um sorriso escapou dos lábios dela. Aquilo era o bastante para seguir em frente. Finalmente ela conseguia encarar sua própria vida. Guardou seu presente naquele quartinho escuro em que vivia, local que logo se tornou claro e vivo. Pegou o telefone e discou aquele número que ela sabia de cor. Conversaram por horas, e cada minuto trazia uma lembrança alegre daquela vida compartilhada.
O tempo passou, ele sempre na memória dela, ela sempre na memória dele.
Nunca mais se viram.
Foram eternamente felizes.

Porque algumas coisas não servem para reavivar antigas chamas, apenas para nos dar a coragem necessária para seguir a vida.