sábado, 27 de novembro de 2010

*

"Não diria nada, embora na noite, às vezes, quando vinha, revelasse certas palavras fragmentadas, incompletas, no código baço dos que se foram, que se perdiam para sempre no mundo dos sonhos esquecidos, enquanto ele tentava inutilmente recompô-las na manhã seguinte. Mas não, não diria nada. Não se diz mais uma palavra quando, de muitas formas nunca claras o suficiente para que os outros entendam, tudo já foi dito."

(Caio F. Abreu)

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Losing a friend


Tem vezes que nos agarramos a alguém por necessidade: aquela coisa de não conseguir viver sozinho, precisar estar acompanhado. Outras vezes, por afeição: vemos aquela pessoa, com tantos gostos e jeitos que fascinam e dispertam interesse em uma relação. Não, não uma relação. Estou falando de amizade. Não estou escrevendo esse texto pra ti, nem se preocupe. Não creio que a pessoa para quem escrevo venha ler o que tenho a dizer, e se vier nem vai saber que é pra ela que digo isso. Por que? Porque o tempo passou. Os dias em que não aguentávamos um dia separados já se foram. Conseguimos aguentar dois dias, três, por que não uma semana? Nossa, mas já se passou um mês... e não percebemos o quanto perdemos com essa falta que só dói nos dias de chuva. Ou sempre, mas como uma dorzinha pequena que nunca passa, e por isso acostuma. É, acostuma viver sozinho.
Queria um dia entender o que aconteceu. Falta de comunicação, erro de comunicação? Só sei que a comunicação parou, de uma hora pra outra, do tudo pro nada. Nada. Como duas vidas inseparáveis resultam em nada? Chega a ser ridículo. Sou eu ridícula? Talvez, por escrever em vão. Mas será que escrevo em vão? Não conseguirei resolver-me, mas quem sabe isso não resolve outras vidas? Acho que é possível: tocar duas almas que morrem de saudade, só não tem coragem de falar. Como orgulho é uma coisa besta. Como alguém se priva de uma coisa tão importante por orgulho? Pra que orgulho, afinal?
Divagando muito. Vou voltar ao ponto. Estou falando de amizade. Amizade de verdade. Mas será que amizade que acaba é de verdade? Mas será que a nossa amizade acabou? Será que o que tínhamos era amizade? Só sei que dói. Dá medo. Dá tanto medo que tenho mais medo do que escrevo do que da escuridão que me rodeia nesse exato momento. É triste. É muito triste perder um amigo, para qualquer circunstância. E quantas circunstâncias chegam e não levam um amigo. Então como uma circunstância boba pode ser tão forte a ponto de separar o inseparável?
Não tenho respostas. Nenhuma sequer. Nem procure por elas nesse texto. É tudo perguntas. Dúvidas. Pois não entendo. E dói.. dói...

domingo, 14 de novembro de 2010

Paul in POA


EU FUI!
Momento mágico, incrível! Inacreditável!
Exatamente há uma semana, dia 07 de novembro de 2010, na minha cidade amada, Porto Alegre, vivi um dos momentos mais lindos, que só pode ser explicado pelo sentimento dos que lá estavam presentes: presenciar os lindos acordes de uma linda história, contada por nada mais nada menos do que Paul McCartney.
52 mil pessoas unidas por um amor. Gremistas e colorados unidos, em um estádio, sem brigas, mas com emoção. Naquele dia todas desavenças foram postas de lado: só uma coisa importava. Um dia longo, de sol forte (até 20h), de filas intermináveis (para muitos), mas que valia toda pena. Não parecia ser esforço algum. Eu, pelo menos, nem senti as horas que passei dentro do estádio do meu rival colorado esperando pelo maior astro vivo. Tudo era encantamento, tudo lindo.
Chegam as 21 horas. Ninguém sabia ao certo o que aconteceria. Ele se atrasaria? Não, ele é britânico, britânicos não se atrasam. E pensamos certo: em cinco minutos, aquela pessoa quase inacreditavelmente carinhosa estava lá, na frente de todos, que mal conseguiam acreditar no que viam. Eu, pelo menos, demorei muito tempo para perceber o que acontecia na frente dos meus olhos. O fascínio era imenso.
Uma pessoa tão importante, tão simples. E ainda preocupada em agradar os fãs. Passou todo show interagindo conosco, perguntando como estávamos, dando boa noite, e além de tudo adequou seu português quase impecável à linguagem gaúcha com expressões como "mas bah tchê" (que levou todos ao delírio), "tri legal", além de cantar junto da multidão o famoso "ah, eu sou gaúcho". Alguém assim, agindo com tanto cuidado e amor, conseguiu conquistar a todos nos primeiros minutos do show.
Homenageou seus colegas de banda já falecidos, John e George, com lindas músicas que transpiravam amor: Here Today e Something. Foram alguns dos momentos mais intensos do show, juntamente com a música que ele dedica a sua amada falecida esposa, Linda: My love. Viam-se lágrimas por todo lado, todos demonstrando o respeito e o carinho por aqueles que foram tão importantes não só na vida do Paul, mas de todos seus fãs.
Macca conseguiu, também, agitar seus fãs, com aquelas músicas mais conhecidas dos Beatles, que pareciam nos transportar para aquela época em que todos tocavam juntos, nos anos 60 (em que eu nem era um projeto de nascer).
É incrível acreditar que eu estava lá. Ainda não acredito. Falarei desses momentos para meus filhos, sem saber se foram um sonho ou realidade. Foi simplesmente... mágico.
"Do you wanna get back?"
I wanna get back.
Obrigada, Paul.

O ESCAPE

*Você já leu o texto "Alice de sonhos", escrito por mim? Vê aqui em baixo. Essa é uma versão da visão do homem misterioso do mesmo conto.

Meu dia no trabalho foi difícil. Estava cansado, mas não podia relaxar. Faça isso! Receba aquilo! Nunca me davam descanso. Um homem qualquer me disse enquanto eu passava caminhando, você parece estar exausto, precisa de carona para casa? Olhei com desprezo para o automóvel do rapaz, não, obrigado, já estou perto de casa.
Não fui para casa, mas para o bar que ali perto se encontrava. Fingi estar bebendo, para não me acharem fraco. Sou forte, mas não fazia nada, enquanto o dono do bar roubava dos seus clientes e meu colega bebia calado. Todos os outros pareciam ser desconhecidos. Ninguém perceberia minha nova ausência. Era hora. Vou dar uma volta de moto, eu disse para ninguém, e minha gratificação foi perceber: ninguém respondeu.
Saí correndo pela rua, ansioso para chegar em casa e vislumbrar minha moto. Semáforos abertos, rua movimentada. Toda correria me deixou ainda mais cansado, aumentando minha ânsia. Já podia enxergar aquele transporte de metal querido, então corri mais rápido, até chegar perto dele. Liguei os faróis, percebi como era lindo o clarão que eles formavam; logo eu já estava em cima da moto, em direção ao meu destino desconhecido.
A velocidade do meu veículo sempre me impressionava; em segundos eu já estava em outra cidade, um lugarzinho pequeno e de pessoas simples. O local perfeito? Bom, tinha pouca gente, ia ser mais fácil. Gosto de desafios, mas estava cansado. Anjinho, tira-me daqui! Ouvi uma menininha gritando. Seria essa noite ainda mais fácil do que imaginei? Sim, seria.
Joguei minha moto em direção daquela casa, e parei em frente do quarto da menina. Ela me olhou entusiasmada e saiu correndo em minha direção. Essa noite poderia ficar mais fácil?
Coloquei-a na moto, sinalizando que ela se segurasse a mim. A menina me enchia de perguntas, sempre sem respostas. Eu só conseguia rir. De vez enquanto soltava uma risadinha, um pedaço da minha alegria em perceber como meus planos funcionavam exatamente como o planejado; não era tão emocionante, mas mesmo assim era um alívio.
A moto ia diminuindo a velocidade e entrando por um beco escuro, até que enfim parei em frente ao meu prédio, colocando novamente a menina nos braços. O dia tinha sido longo, devíamos descansar. Não havia nenhum imprevisto, aquilo podia esperar algumas horas.
Acordei, no dia seguinte, mais cedo. Escrevi uma coisa qualquer em algum papel velho que guardava em casa, e colei à testa da criança. Fui para o bar, esbanjando a glória de minha conquista. Orgulhosamente mostrei a todos, mesmo àqueles desconhecidos, minha habilidade em planos infalíveis (claro, sem mencionar sobre o que realmente meus planos tratavam).
Aproveitei para dar mais um passeio de moto, apesar das cervejas que havia exageradamente bebido. Um homem qualquer de uma rua sem importância me olhou, você parece mais calmo hoje. Não precisei olhar-lhe com desprezo. Sim, estou muito melhor agora. Um bom dia para você, estou indo para casa pois ainda tenho muito trabalho a fazer hoje.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Alice de sonhos

Na pequena cidade de Palhas Andes, no sul de Bentas, pessoas simples com suas vidas simples e seus afazeres simples passavam por mais um dia de trabalho (simples?). Ninguém ouvia os gritos de súplica daquela menina dos olhos claros e cabelos negros; ninguém ligava para a mesmice da vida: exceto ela, criatura de desejos e ilusões.
Todas as noites, antes de dormir, ela fazia um pedido para o anjo Luiz, o qual ela conhecera em um de seus sonhos, um sonho belo que se repetia todas as noites. Tira-me daqui, anjinho, que quero vida! Tira-me daqui...
E colocava-se para dormir, na espera de, alguma manhã, encontrar-se numa outra cidade, quem sabe noutro país? Os amigos dela gargalhavam ao ouvir da ilusão da menina de olhos esperançosos: até parece que existe um anjo Luiz! E mesmo se ele existir, jamais dará atenção a uma criança que vive numa cidade como essa! Somos privilegiados, Alice! Temos paz e solidariedade, vivemos sempre tranqüilos. O que você pode querer além do que temos?
Mas nada conseguia conter sua ânsia. Ela queria mais! Mais, mais, muito mais! Berrava com o máximo entusiasmo, tanto que ninguém estranharia se ela algum dia desaparecesse sem avisos.
Certa noite, ela não gritou nem fez desejos ao anjinho. Estava cansada demais e, por isso, pegou logo no sono. Não teve o sonho de todas as noites: um paraíso nevoado, nada parecido com sua cidade; nessa noite, porém, a única coisa que invadiu seus sonhos foi a escuridão.
Ela acordou assustada, temendo ter quebrado um pacto com aquele anjo misterioso. Perdoa-me, anjinho, perdoa-me! Nunca esqueci de ti, mas não sei se sabes quem sou! Não sei se queres me ajudar! Prova, meu anjinho, que um dia daqui me tirará!
Uma luz brilhante invadiu seu quarto. Ela se entusiasmou, pensando ser aquele o anjinho com o qual ela tanto sonhava. Olhou com mais atenção e pôde ver que aquele clarão vinha de um farol, que se posicionava na parte da frente de um transporte de metal, algo que ela nunca tinha visto antes. Quanta tecnologia possui esse anjo, ela pensou, e seguiu correndo para os braços daquele velho homem que estava parado em frente a sua casa. Sem pensar, deu um abraço nele: anjinho, sabia que viria me salvar! Para onde vamos?
Tudo que ela ouviu como resposta foi uma risadinha. Não se importou, pois nunca havia visto o anjo Luiz falar. Será que anjo algum fala?
Carinhosamente, o velho a colocou em cima da moto, fazendo um sinal para que ela se segurasse a ele. Alice fechou os olhos, esperando ansiosamente pelos novos lugares e por tantas pessoas desconhecidas que veria. Olhou para o velocímetro, que marcava 170 km/h. Ela não sabia o que aquilo significava, mas podia sentir toda a cidadezinha voando rapidamente para seu passado.
Chegou, enfim, ao seu destino. Um aglomerado de inutilidades captou sua visão, e ela não entendia nada, mas demonstrava sua profunda alegria em não conhecer. Quando vamos conhecer a cidade? Ela perguntava e perguntava, sempre sem respostas.
A moto ia diminuindo a velocidade e entrando por um belo escuro, trazendo ainda mais curiosidade para a menina dos desejos. Enfim, pararam em um prédio que parecia ser abandonado, e ali o homem, após pôr a menina nos braços, entrou cuidadosamente.
Era frio e úmido, além de sujo, aquele lugar. Não havia pessoas, não havia nada. Exausta, a menina decidiu ter uma noite de sono, para só então voltar a questionar seu suposto anjinho.
Acordou sozinha, com um bilhete preso à testa “Fui comprar comida, criança”. Que estranho ele me chamar de criança. Meu anjinho não sabe meu nome? Mais estranho ainda é ele ter que se alimentar. A menina passou um tempo refletindo, mas deixou pra lá. Passaram-se algumas horas, e nada do anjinho voltar. Alice ficou assustada, então se pôs a rezar: anjinho, cadê você? Por que não volta para cá? Vamos conhecer o mundo!
E o homem voltou. Nada se parecia com um anjo. Estava imundo e com um cheiro estranho. Álcool? Ele andou bebendo? Ele estava meio zonzo, por isso a menina imaginava que sim, ele tinha bebido. Anjinhos bebem? Pensou novamente: ele não estava se parecendo nada com o anjo Luiz; barba mal feita e cabelos despenteados. Anjinho, qual é o seu nome? Ela perguntou. Você é o meu anjinho Luiz? Não se parece muito com os meus sonhos...
Sonhos não são realidade, menina. Pela primeira vez ele respondia alguma pergunta.Que voz grossa e seca! A menina ficou apavorada. Para sua sorte, o bêbado caiu no chão e ali ficou, pelo resto do dia. E da noite. E dos três dias seguintes.
Alice ficava cada vez mais desesperada, pois não tinha dormido nenhum segundo daquelas setenta e duas horas.
Finalmente, caiu no sono. Sonhou com aquele anjo bondoso com o qual sonhava em Palhas Andes. Foge, querida! Foge que eu te ajudo a voltar para casa.
Em pouco, ela se levantou, correndo pelo espaço e procurando por uma saída. As janelas eram difíceis de abrir, a porta estava completamente trancada. É, aquele homem havia pensado muito bem em como me prender aqui. Tentava abrir as janelas, e com muito esforço e alguns minutos, conseguiu.
Chegou à rua, sem saber o que fazer? O que faço, meu anjinho? Ajuda-me!
Depois disso, um pedaço de papelão começou a brilhar. Ela imediatamente subiu no papel, e numa velocidade ainda maior aquilo começou a voar. Voou alto e longe, por isso em pouco a menina já via sua cidadezinha querida. Que saudades tuas senti, Palhinhas!
Chegou ao solo e foi direto para casa. Todos ficaram surpresos em vê-la, pois pensaram que ela havia realizado seu desejo de conhecer o mundo, de sair daquela vida. Experimentar uns dias longe do confortável fê-la ver o quão especial era o local em que ela vivia. Somos mesmo privilegiados aqui, ela sussurrou para seus amigos (para que ninguém soubesse como seus gritos do passado estavam errados, pois o paraíso estava bem ali).

(Fruto de uma aula de teoria da literatura e pensamentos maldosos)