– Oh, mas que belos olhos, quão admirável boca.
Ele pensava...
Acho que é assim mesmo, duas pessoas passam uma pela outra em uma madrugada
escura e ficam pensando em um pra sempre, um ao lado do outro, e simplesmente
sabem. Sabem o quê?
Bem, sabem que
recordarão daquele rosto pelas próximas cinco madrugadas, sabem que pensarão,
em vão, nas vastas possibilidades que um gesto um pouco diferente poderia ter
ocasionado naquela noite escura, sabem que invadirão espaços nas próximas
manhãs, de olhar cansado, procurando sem cessar por aquela imagem
(pseudo)inesquecível.
– Por que somente pelas próximas
cinco madrugadas?
Alguém
curioso indaga. Porque é sempre assim. Sim, sempre. Tu nunca percebeste? A
gente se apaixona perdidamente uma vez, duas, quatro... em um só mês. Em uma só
semana. Refutas? Então se explique (e até o presente momento me pergunto o porquê
de tê-lo questionado, pois passei as últimas duas horas ouvindo um longo
discurso sobre o amor eterno, o casamento e tantas outras instituições).
Mas,
meu caro leitor, quem te disse que estamos de lados opostos? Eu diria, quase,
que estamos do mesmo lado. Eu consideraria, até, que nos apaixonamos todos os
dias. Pode ser pela recepcionista do escritório, o pintor da obra, a menina dos
olhos belos da madrugada, quem sabe? Ainda não entendeste? Explico!
Podemos nos
apaixonar sempre pelas mesmas pessoas, ou por outros indivíduos. Isso depende
de nós, dos outros e de tantos outros pequenos detalhes que aparecem no nosso
cenário. E se eu te contar que aquele moço lá em cima casou-se com aquela
passante? Eles se apaixonaram outra vez. E mais umas dez mil vezes até hoje. Eis
aí o segredo da eternidade.