domingo, 14 de novembro de 2010

O ESCAPE

*Você já leu o texto "Alice de sonhos", escrito por mim? Vê aqui em baixo. Essa é uma versão da visão do homem misterioso do mesmo conto.

Meu dia no trabalho foi difícil. Estava cansado, mas não podia relaxar. Faça isso! Receba aquilo! Nunca me davam descanso. Um homem qualquer me disse enquanto eu passava caminhando, você parece estar exausto, precisa de carona para casa? Olhei com desprezo para o automóvel do rapaz, não, obrigado, já estou perto de casa.
Não fui para casa, mas para o bar que ali perto se encontrava. Fingi estar bebendo, para não me acharem fraco. Sou forte, mas não fazia nada, enquanto o dono do bar roubava dos seus clientes e meu colega bebia calado. Todos os outros pareciam ser desconhecidos. Ninguém perceberia minha nova ausência. Era hora. Vou dar uma volta de moto, eu disse para ninguém, e minha gratificação foi perceber: ninguém respondeu.
Saí correndo pela rua, ansioso para chegar em casa e vislumbrar minha moto. Semáforos abertos, rua movimentada. Toda correria me deixou ainda mais cansado, aumentando minha ânsia. Já podia enxergar aquele transporte de metal querido, então corri mais rápido, até chegar perto dele. Liguei os faróis, percebi como era lindo o clarão que eles formavam; logo eu já estava em cima da moto, em direção ao meu destino desconhecido.
A velocidade do meu veículo sempre me impressionava; em segundos eu já estava em outra cidade, um lugarzinho pequeno e de pessoas simples. O local perfeito? Bom, tinha pouca gente, ia ser mais fácil. Gosto de desafios, mas estava cansado. Anjinho, tira-me daqui! Ouvi uma menininha gritando. Seria essa noite ainda mais fácil do que imaginei? Sim, seria.
Joguei minha moto em direção daquela casa, e parei em frente do quarto da menina. Ela me olhou entusiasmada e saiu correndo em minha direção. Essa noite poderia ficar mais fácil?
Coloquei-a na moto, sinalizando que ela se segurasse a mim. A menina me enchia de perguntas, sempre sem respostas. Eu só conseguia rir. De vez enquanto soltava uma risadinha, um pedaço da minha alegria em perceber como meus planos funcionavam exatamente como o planejado; não era tão emocionante, mas mesmo assim era um alívio.
A moto ia diminuindo a velocidade e entrando por um beco escuro, até que enfim parei em frente ao meu prédio, colocando novamente a menina nos braços. O dia tinha sido longo, devíamos descansar. Não havia nenhum imprevisto, aquilo podia esperar algumas horas.
Acordei, no dia seguinte, mais cedo. Escrevi uma coisa qualquer em algum papel velho que guardava em casa, e colei à testa da criança. Fui para o bar, esbanjando a glória de minha conquista. Orgulhosamente mostrei a todos, mesmo àqueles desconhecidos, minha habilidade em planos infalíveis (claro, sem mencionar sobre o que realmente meus planos tratavam).
Aproveitei para dar mais um passeio de moto, apesar das cervejas que havia exageradamente bebido. Um homem qualquer de uma rua sem importância me olhou, você parece mais calmo hoje. Não precisei olhar-lhe com desprezo. Sim, estou muito melhor agora. Um bom dia para você, estou indo para casa pois ainda tenho muito trabalho a fazer hoje.

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"Tão estranho carregar uma vida inteira no corpo, e ninguém suspeitar dos traumas, das quedas, dos medos, dos choros." Caio F

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